segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A droga do amor.

- Amar é perigoso. - Sei disso - respondi. - Já amei antes. Amar é como uma droga. No começo vem a sensação de euforia, de total entrega. Depois, no dia seguinte, você quer mais. Ainda não se viciou, mas gostou da sensação, e acha que pode mantê-la sob controle. Pensa na pessoa amada durante dois minutos e esquece por três horas. "Mas aos poucos, você se acostuma com aquela pessoa, e passa a depender completamente dela. Então pensa por três horas, e esquece por dois minutos. Se ela não está perto, você experimenta as mesma sensações que os viciados têm quando não conseguem a droga. Neste momento, assim como os viciados roubam e se humilham para conseguir o que precisam, você está disposto a fazer qualquer coisa pelo amor".

Título salpicado por Camilla Leandro.
(Autor desconhecido).

Sozinha a te olhar.

Não sei bem como começar. Queria saber juntar todas as palavras e dizer de uma vez tudo o que está aqui, pronto pra explodir. Mas que fica, que insiste em me oprimir. Tudo o que eu escrevo é sobre você, cada música que escuto parece falar de nós, cada segundo do meu dia é preenchido pela sua imagem, durmo, sonho e acordo imaginando como seria te tocar. Eu não sei como explicar, já faz um tempo que você ocupa meus pensamentos. Nem lembro como tudo começou, quando dei por mim já estava mergulhada em ti. Nos seus olhos, no seu sorriso, no seu modo de andar, no seu jeito todo particular de posar para uma foto, no jeito como me olha e como pronuncia meu nome. O som da sua voz faz estremecer cada músculo do meu corpo e mesmo que longe, consigo sentir sua presença. Por um momento achei ter te visto de relance, assim só por um segundo. A esperança de vê-lo fez nascer algo dentro de mim, que eu nem sabia que existia. Mas que murchara quase com a mesma rapidez, quando me vi olhando para um estranho. Mas o que você realmente é? Se não um estranho? Talvez tenha sido você. Talvez.

Tudo em você me encanta, me prende, me fascina. Não sei ao certo o porque, só sei que é assim. A maioria das pessoas não entende porque não sigo minha vida em frente, nem eu mesma entendo. Mas não posso me livrar, não posso fingir e nem fugir. Você me tem prisioneira, por toda a vida. Eu simplesmente não posso te deixar, mesmo que nunca tenha me pertencido. Algumas vezes quis me ver livre, mas vi que não existe vida além de ti ou talvez exista, mas ter você aqui dentro, é o que basta. Por algum tempo. Pensamentos assim povoam a minha cabeça, antes que a solidão da sua ausência se aflija sobre mim e eu queira novamente morrer. Sumir. Porque sim, as vezes vem-me á cabeça a verdade explícita e violenta de que nunca será meu. Nossos mundos estão separados, não só geograficamente. Tudo se desencontra. Absolutamente tudo, não há nada certo. Nada, nunca houve.

Eu daria tudo para que você sentisse pelo menos um pouquinho do que eu sinto por você. Para que sentisse a intensidade, a alegria, a dor, a solidão, a incerteza, o medo. Uma enxurrada de sentimentos, capazes de provocar dores de cabeça e ânsias de vômito. Mas sobretudo, para que você sentisse a insegurança, de perder algo que nunca teve. Da dor de dizer que nunca haverá um "nós", que nunca terá aquilo que mais ama na vida. Que sua essência se perdera, que não há mais razões para ficar e continuar. Porém, esse desejo é impossível. Pois, esse fardo é somente meu. Meu destino, tenho que lidar com ele. Mesmo que seja a duras penas. Talvez seja esse sofrimento que me mantém viva. Porque se eu não o tiver, o que será de mim? Uma ilusão sem fim.

(Camilla Leandro).

domingo, 26 de junho de 2011

Vingança I




Ela estava sentada, amarrada a cadeira. Não poderia mexer os pés e nem as mãos. A mordaça apertava a sua boca, estava inconsciente. Peguei uma cadeira, coloquei bem em frente a sua, sentei-me. A faca ainda estava em minha mão, nem a percebia, era como se fizesse parte de mim. Fiquei fitando-a por muito tempo, não sei lhe dizer o quanto. A vendo desse jeito, frágil, vulnerável, imóvel, capturada fica difícil de lembrar de como era a um tempo atrás. Era destemida, segura, auto-suficiente e no entanto foi pega. Gargalhei ao pensar dessa forma, aqui ela não parecia tão segura de si. Meu rosto ficou sombrio novamente, esperei até que acordasse lentamente. Olhou todo o quarto, não sabia onde estava, ficou assustada. Percebeu minha presença em sua frente, lágrimas caiam, implorando que eu a soltasse. Infelizmente eu não podia fazer isso. A diversão nem tinha começado. Ela soluçava em silêncio e eu não conseguia tirar os olhos dela. Minha cabeça girava, em turbilhões de pensamentos e sentimentos. Eu esperei por esse momento, por muito, muito tempo. Tinha que ser perfeito. Uma hora depois do seu despertar, me levantei, fui até ela, tirei sua mordaça e joguei no chão. Depois a rodeei, até que eu ficasse atrás dela. Me abaixei bem lentamente, afastei seus cabelos do ombro, ela tremia. Falei em um sussurro: - Não precisava ser assim, mas a escolha foi sua e agora não tenho como voltar atrás. Ela no entanto, chorou ainda mais. Estava apavorada, o que é engraçado. Não havia feito nada com ela. - Por favor, me deixe ir. Eu juro que não conto para ninguém, eu vou embora da cidade. Nunca mais você vai me ver. Por favor. Não contive a risada, não conseguia controlar minhas ações. Lhe proferi um tapa com as costas da mão, o que fez sua cabeça tombar para o lado, agarrei seu queixo e aproximei meu rosto muito perto do dela. - Você acha mesmo que vai ser tão fácil assim? Que é só pedir por favor, choramingar que eu vou ceder? Não! Agora eu estava gritando, - Eu já aguentei demais, agora é minha vez de atacar. Um dia é da caça e o outro é do caçador. E você é a caça. Soltei seu rosto, estava vermelho pelo tapa e isso me deixava satisfeita. Andei por todo o quarto, ainda estava pensando no meu ato seguinte. Me sentei de novo na cadeira em sua frente. - Vamos conversar Bella. Ela continuava a chorar, mas me olhava de um jeito diferente. Acho que estava com raiva de mim. - Por muito tempo, eu me perguntei porque você fazia aquelas coisas comigo. Eu era uma criança, eu queria ser como minha irmã mais velha sabe? Eu te admirava. Mas você sempre conseguia me por para baixo... Ela me interrompeu antes que eu terminasse a minha frase, - Eu sei que errei Jo, que eu errei muito com você. Me perdoe. Me levantei bruscamente, ela estava brincando com fogo. - Te perdoar? Minha vida foi um inferno por sua causa. Somente sua. Você roubou tudo o que eu amava. Você colocava a culpa sempre em mim. Afinal, nem sua irmã de verdade eu sou não é? Lembra, da vez em que você disse que nem meus pais biológicos me quiseram? Agora minhas lágrimas também saltaram, limpei-as rapidamente, fraqueza era algo que eu não aceitava. - Eu era uma adolescente que não media as consequências do que eu falava, eu só queria te alugar. Eu sei que é errado descontar nos outros, mas eu não sabia o que estava fazendo. Ri novamente, é engraçado que sempre fazia isso. Chorava e ria ao mesmo tempo. - Graças a você Bella, eu não tenho mais nada a perder. Abri meus braços, num gesto que significava que não tinha nada a não ser eu mesma. - Eu não tenho família, eu não tenho amigos, eu não tenho o homem que eu amo, eu não tenho minha filha. Nada, não me sobrou nada. Você conseguiu tudo, parabéns. Comecei a bater palmas para ela. Cheguei perto outra vez. - Porque? só me diz o motivo. Porque você fez isso comigo? meu olhar era insano, pude ver isso por sua expressão, aproximei a faca de seu rosto, percorri inteiro com a ponta afiada. - Eu...eu sempre quis ter tudo o que você tinha. Meus pais gostavam mais da filha adotiva. Mark nunca olhou para mim, ele se interessou por você, ele pediu você em casamento e não eu. Eu não achava justo, ta legal? Porque você merecia mais do que eu? Ela gritava, fiquei me perguntando quem era mais louca, eu ou ela? Suas palavras mexeram comigo, nunca achei que era esse o propósito. Apenas ser igual a mim? Impossível. Eu nunca fui melhor que ela, isso era irreal.

(Camilla Leandro).

Vingança II

- Você sempre teve tudo o que quis. Você fez que fez até acabar com a minha vida. Você conseguiu Bella, você matou a minha filha, você fez ele acreditar que eu fui a culpada. Você o teve por completo. Porém não era o bastante não é? Taquei o abajur na parede oposta, eu queria quebrar tudo, gritar, matá-la. - É eu fiz tudo isso mesmo, mas ele não me olhava da mesma forma que olha pra você. Consegui ter sua presença, mas não o amor. Ele ama você e isso não é justo. Eu sempre fiz tudo por ele, tudo. Ele tinha que ficar comigo.Não aguentei e parti pra cima dela, a desamarrei, joguei-a na cama, e comecei a golpeá-la, arranha-la. Agora ela também queria revidar, nos batemos até perder as forças e cair cada uma para um lado do quarto. Me sucumbi ás lagrimas. Estava cansada, fisicamente e emocionalmente. - Sabe, foi você que me deixou assim. Com todo esse ódio em meu peito. Afinal, acho que me igualei a você. Me odeio por isso, mas é a verdade. Como disse, não tenho nada a perder e todas as nossas contas serão acertadas hoje. Ela riu de mim, sínica. - Acho que não irmãzinha, logo Mark vai saber onde estou. Quando você estava me trazendo para cá, ele estava no celular. Daqui a pouco, ele chega com a polícia e você vai apodrecer na cadeia. Ela debochava, sentou-se na cama e tinha uma expressão de triunfo no rosto. Me levantei, arrumei meu cabelo. - Não, acredito que nem vou responder por sequestro. Como eu disse, eu me igualei a você. E a única arma infalível que eu tinha era pensar como você pensaria. Totalmente previsível. E eu consegui. Me olhou surpresa, se esforçando para não demonstrar a confusão. - Do que você está falando? Sorri de lado. - Olha lá em cima, está vendo? é uma câmera. Que transmite a imagem e som ao vivo para uma van que está parada ali do outro lado da rua. O agente Jake Burnes, me deu apoio nessa idéia. E sabe do que mais? Isso não era suficiente pra mim. A mesma imagem e o mesmo áudio é transmitido também para o notebook do Mark, a essa hora ele deve estar arrependido do que fez. Ela me olhava com ódio, toda a verdade a tona dessa vez. Ela veio para cima de mim, me jogou no chão com uma ferocidade surpreendente. Foi quando a porta foi quase arrancada da parede. A tiraram de cima de mim, a algemaram. No mesmo momento em que Burnes me ajudava a levantar, ela gritou: - Você vai se arrepender disso Joane, você me paga. Dei um tchauzinho antes que a tirasse do quarto. - Sua irmã não vai sair nunca mais da cadeia Jo.Vai responder por homicídio contra a sua filha, por falsidade ideológica e vários outros delitos. Dessa vez você está livre dela. Suspirei. - Ela não é minha irmã, Jake. No dia seguinte já estava em meu apartamento arrumando minhas coisas, quando a campainha tocou. Olhei pelo olho mágico da porta e hesitei em abrir. - Oi, eu acho que a gente tem que conversar. Mark estava parado na minha frente, não disse nada, apenas dei passagem para que entrasse. Fechei a porta. - Sobre o que?Ele não sabia como encontrar as palavras, cruzei os braços. - Sobre tudo o que aconteceu. Eu me deixei enganar por ela, eu estava tão abalado pelo o que aconteceu com a Katie que fiquei cego. Eu nunca podia imaginar isso. Aquilo me deixou irritada. - Você não pode acreditar que ela foi a assassina da nossa filha, mas acreditar que a culpa era minha foi fácil não é? Olha, eu só queria que você soubesse a verdade. Só isso. Nós não temos nada do que conversar.Ele se aproximou de mim, me segurava com as duas mãos. - Por favor me perdoa, eu sei que fui injusto. Mas agora eu já sei a verdade e a gente pode recomeçar. Sei lá, morar em outra cidade. Vida nova. Me desvincilhei do seu aperto, o olhei com indignação. - Não Mark não dá para fingir que nada aconteceu. Você está certo, eu vou ter uma vida nova, no qual você não tem espaço. Ele suava de impaciência, de vergonha talvez. - Por favor, eu juro... Não me contive. - Vai embora da minha casa. Ele insistia, - Não, vamos conversar. Fui até a porta, a abri. - AGORA! Ele saiu, bati a porta com muita força. Lágrimas rolaram pelo meu rosto, respirei fundo e continuei o que estava fazendo. De tarde, confirmei o contrato com o comprador do meu apartamento, tudo certo. Coloquei todas as minhas malas no carro. Dirigi por horas até chegar na cidade de Lawrence. Estava exausta, mas feliz. Agora eu podia recomeçar a minha vida. Esquecer aquele pesadelo. Anos se passaram, eu me casei e tive um filho chamado Jake, sim em homenagem a única pessoa que acreditou em mim no passado. Eles me fizeram esquecer tudo. Até que vi no noticiário, a morte de uma presidiária chamada Bella, que foi condenada pelo homicídio de uma garotinha de 5 anos. Esse foi o fim dela, e fiquei sabendo também que Mark, conseguiu ir embora para outro país, depois disso ninguém mais soube nada dele. Eu estava em paz, como nunca achei que estivesse um dia.

(Camilla Leandro).

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tarde demais

Annie e eu fomos criados juntos, parece até que minha vida começou após ela se mudar para a nossa rua, tínhamos 9 anos. Ela era bem pequena para a sua idade, quieta, tímida. Tinha os olhos azuis e o cabelo loiro que sempre ficava solto, costumava usar um vestido azul claro, eu adorava aquele vestido. Quando sorria tudo em volta parava, eu ficava vidrado nela, brincávamos juntos, iamos até a cachoeira, andávamos de bicicleta, aliás foi eu quem a ensinou a andar. Todas as tardes eram com ela, inseparáveis. Crescemos, a adolescência bateu na porta e junto com ela as descobertas, Annie era minha melhor amiga e eu faria tudo por ela, mas quando eu digo tudo, é tudo mesmo. Tinha ciúmes quando algum garoto se aproximava dela, ciúmes de irmão é claro, pelo menos na época era assim que eu via. Mas Annie não era muito de sair e de ficar com outras pessoas, nós passávamos muito tempo juntos, nos pertencíamos. Isso me deixava seguro, ela sempre estaria do meu lado, não importa o que acontecesse. Algumas pessoas diziam coisas dela para mim do qual eu nunca prestei a atenção, quando estávamos quase com 17 anos, muitas pessoas diziam, olha Luke a Annie gosta de você, mas não só como irmão. Eu não acreditava, pelo menos no começo não. Ela era minha amiga, minha irmã. Mas sabe quando seu subconsciente desperta aquilo que sempre esteve na sua frente? Isso começou a me incomodar, eu ficava horas pensando se era possível. Uma vez fomos em uma chácara abandonada, sentamos em baixo de uma árvore, Annie levou seu livro para pintar, estava do lado dela, não conseguia desviar meu olhar, minha cabeça estava a mil, pensando se era certo ou não fazer o que eu queria fazer. Não queria perder sua amizade, mas o impulso foi mais forte que eu. Quando ela se virou para me dizer algo, eu lhe dei um beijo na boca. Nos levantamos de repente, ela estava muito vermelha, não me disse nada apenas saiu. Fiquei alguns dias sem vê-la, não me respondia recados, estava me evitando. Era o que eu mais temia, mas....ela gostava de mim, não? Meu coração dizia que sim, eu podia sentir. Alguns dias depois recebo a notícia de que ela irá viajar, não aguentei e fui até sua casa, subi até seu quarto e bati na porta, Annie me recebeu com aquele sorriso lindo que me deixava desnorteado, então quer dizer que ela não estava com raiva de mim, respirei aliviado. Parecia que ela havia apagado o episódio do beijo de sua memória, mas eu não iria citar, ela estava alegre e não queria que se afastasse de novo. Conversamos por horas, ela me contara tudo sobre a viajem, eu ouvia e sorria para incentiva-la porém a minha vontade era de amarrá-la na cama para que ela não fosse. Quando fui embora não aguentei e desabei, percebi talvez um pouco tarde de que eu era um irmão para Annie. Ela viajou, ficou meses fora, nos falávamos as vezes. Nesse tempo conheci outras pessoas, aquele sentimento foi esfriando dentro de mim. Quando vi havia três anos que Annie tinha viajado, de repente ouço o telefone tocar, era ela avisando que voltara com uma surpresa. O sentimento de 3 anos atrás voltara com força total, corri para meu quarto, tomei banho, me arrumei e fui até a casa dela espera-la. Minutos depois o táxi a deixa lá, eu tremia de excitação, tanto que não percebi o rapaz atrás dela, ela me abraçou como nunca tinha feito antes, após alguns momentos ela me entrega um convite. - Luke eu quero que você seja padrinho do nosso casamento. E abraçou o rapaz que agora eu via perfeitamente, um nó fechou a minha garganta, por alguns instantes eu apenas a fitei, como quem olha o nada. Respondi - Claro, parabéns irmãzinha. Ela me abraçou novamente, irradiava felicidade. Eu teria que ficar feliz por ela, mas meu amor era maior que isso, alguns anos depois eu realmente aceitei de que eu sempre fora apaixonado por ela, mas parecia que tinha uma venda em meus olhos, meu ego não queria aceitar de que ela só me via como amigo ou como um irmão. Após a festa de noivado fui para a minha casa, Annie iria morar na mesma rua que a gente, na casa do lado da dos seus pais. Eu não iria suportar, arrumei minhas malas, escrevi um bilhete a Annie dizendo que não ia poder ficar, aos 20 anos peguei meu carro, me despedi dos meus pais com relutância. Quando entro no carro vejo Annie na janela de sua casa me vendo partir, ela tinha o olhar surpreso, como se não acreditasse naquilo, porque afinal nosso lema era "Sempre um do lado do outro". Porém era demais, era insuportável essa idéia. Aquela imagem ficou gravada em minha mente até os últimos dias da minha vida, nunca mais voltei para aquela cidade, nunca mais a vi. A menina de vestido azul sempre fora uma ilusão para mim, o único jeito foi fugir.

(Camilla Leandro).

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Obsessão

Eu tento, eu sei que tento e você também sabe. Isso é frustrante, repulsivo. Ah se eu pudesse escolher...eu não quero isso e acredito que você também não queira, ninguém quer. Porque dói, fere, lágrimas estão sempre presentes mesmo que você não se importe. Elas me rasgam como garras de um monstro com sede de sangue, me cravam espinhos de uma rosa murcha que paira triste sobre mim. O grito não sai, o coração parece que vai saltar pela boca, sem ar...pálpebras pesadas, corpo cansado, exausto. Isso me consome por inteira, e você? Ah você continuará sendo você, não importa o que aconteça. Sinto que aos poucos estou me desintegrando, pedaços de mim rolam por ai, por todo lugar onde você passa. O rosto pega fogo quando meus olhos cabisbaixos enxergam sua silhueta, tremedeira, insegurança, dor....e você? Ah você nem percebe, nunca percebeu, não te culpo! Ser invisível se tornou rotineiro, talvez eu mesma tenho me feito transparente, é mais cômodo sabe? As vezes o canto e o silêncio são melhores do que a idéia de ouvir um não, ou apenas ser ignorada de um modo direto. Mas mesmo sabendo disso tudo eu aguento, por você eu faria tudo. Quem ama sabe, racionalizar é raro, o que significa isso mesmo? Enquanto esse turbilhão de coisas varrem minha cabeça você segue em frente, enquanto eu me enterro, você vai continuar seguindo em frente...sem olhar para trás. Sem ver nem que seja por um segundo que eu estive aqui o tempo todo, só você não viu.

(Camilla Leandro).

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O desamor

Fanatismo

Minha'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
(Maria Lúcia dal Farra).

As 03:11 da madrugada não consigo dormir ouvindo o eco de suas palavras. Foi como um golpe que eu mesma proferi em mim, eu precisava. A algum tempo atrás eu lhe entreguei meu coração, meu bem mais precioso. No entanto você o esmagou, despedaçou. Poderia jurar que daria minha vida pela sua sem pensar duas vezes, mesmo sabendo que não faria o mesmo por mim. Eu prestava a atenção em todos os seus movimentos, ficaria horas te admirando se pudesse, sem pedir nada em troca. Para os seus defeitos eu me vendei, para os meu tinha olhos de lince, mas nem por isso eu te amei menos. Você dominava por inteiro meus pensamentos, desde a hora em que o sol nasce até quando ele se vai, constantemente e eu poderia viver assim para sempre. Mas meu coração quebrado queria me avisar de que algo estava errado. Você esquecera de me amar de volta, de pensar em mim, de sequer me olhar. Teria dado tudo para te tocar ao menos uma vez e ter certeza de que não foi só um sonho ruim. Mesmo longe eu te amei com toda a minha alma e você como se troca de roupa, me trocou para viver sua vida com outras pessoas. Não o culpo. Mas decidi que essa obsessão deveria chegar ao fim. De que adianta amar e sonhar sozinha, se nunca ouvirei um "Eu também te amo" da pessoa que mais amei nessa vida? Este inferno de amar me corrói por dentro, me fazendo enxergar aquilo que eu não queria ver, mas vi. Nunca existiu um "nós" e nunca existirá. Adeus.

(Camilla Leandro).

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Descontrole

A maioria das pessoas olham as nuvens e vêem coelhos, cachorros, anjos. Eu nunca vi coisas fofinhas, sempre agressividade. Outro dia juro que vi dois dragões lutando. A raiva me consome de um jeito que tudo o que eu olho se mostra negativo, as pessoas, lugares, objetos, tudo. É sufocante, mal posso respirar com essa densidade no ar. Pensamentos fervilham, explodem na minha cabeça. Tento por as idéias no lugar, mas é difícil. É uma batalha interna. Pesadelos todas as noites, deles não posso fugir. Buracos negros onde eu caio sem parar, cavalos de olhos vermelhos correndo atrás de mim, isso só pode ser um sinal, da próxima vez jogo no cavalo no "jogo do bicho", talvez eu ganhe algo com essa angústia. O suor sempre presente, isso me irrita. Ele insiste em mostrar a todos o quanto estou nervosa. Meu olhos sempre me puxam para ver algo desesperador, tento me conter porém é mais forte que eu, e aquelas imagens ficam voltando a minha retina para me provocar, me tirar do sério. Ofegante. Dificilmente me concentro em algo, mesmo se for interessante. Isso me intriga um pouco, eu costumava gostar das coisas, agora não mais e nem ao menos sei porque. Grito o mais alto que eu posso, até a garganta doer, nada alivia. As vezes nem sinto vontade de levantar da cama e encarar esse abismo lá fora, me dói a cabeça só de imaginar. Quando foi que isso começou? Não faço idéia, só queria que tivesse um fim. Um fim para todo esse descontrole. Que eu tivesse as rédeas de mim mesma.

(Camilla Leandro).

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Perseguição

Como sempre estava atrasada para chegar a aula de música. Tinha saido da livraria o mais rápido que pude e mesmo assim não iria conseguir ser pontual. Essa noite a lua estava muito clara e o céu bem limpo, não havia estrelas, era apenas aquele azul escuro. Bateu um ventinho que fez meus cabelos levantarem dos ombros, fechei todos os botões do meu sobretudo e comecei a andar em direção a rua principal, tinha muito chão pela frente até chegar lá. No meio do caminho até pensei em desistir, ia chegar atrasada mesmo. Mas decidi continuar. Sabe aquela sensação de estar sendo seguida? Observada? Acredito que todos nós já nos sentimos assim alguma vez. Caminhava um pouco mais rápido sem olhar para nenhum lugar, apenas focando o fim da rua, queria passar logo aquela parte escura e deserta do bairro. Virei á direita e me arrependo por ter feito isso, não havia ninguém na rua e eu não iria voltar, então comecei a andar mais rápido, quase correndo por aquela rua que mais parecia um beco, ao menos era um atalho para chegar mais rápido a escola. Um silêncio mortal pairou naquele bairro, nem barulho de carros eu ouvia. Só meu próprio coração que parecia que ia sair pela boca. Comecei a suar frio e ouvir os passos de alguém atrás de mim. Rezava baixinho para encontrar alguém em meu caminho, não resisti e olhei por cima do meu ombro. Não sei se foi minha imaginação mas o que eu vi foi um homem muito alto com um sobretudo parecido com o meu e um chapéu que escondia parte de seu rosto. Corri o mais rápido que pude, estava quase no fim da rua para entrar em outra mais iluminada, foi quando ele me alcançou e me atirou contra a parede. Senti uma dor aguda na cabeça, fiquei meio tonta e vi que ele se encaminhava novamente para mim com os punhos cerrados, me esquivei e corri como se minha vida dependesse disso e dependia. Entrei em uma avenida totalmente iluminada, olhava a todo instante para trás, ele ainda corria atrás de mim, apertei mais a corrida, até que avistei um guarda na frente de um prédio. Agarrei-o pelo colarinho de sua farda e disse: - Guarda aquele homem me atacou, me ajuda por favor - E as lágrimas corriam pelo meu rosto, as palavras se atrapalhavam em minha boca. O guarda tentou me acalmar e apontou a rua, - Não tem ninguém lá - Eu olhei atordoada, ele havia sumido de repente e depois virei-me para ele - Ele deve ter fugido, chame a polícia - O guarda me olhou meio confuso e me disse o que eu não queria acreditar. - Moça, a senhorita estava correndo sozinha desde o começo da rua.

(Camilla Leandro).

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A bailarina

Eu havia ganhado essa caixinha de música com uma bailarina pequena da minha avó materna, ela me deu para que eu não ficasse com medo do escuro, quando estivesse apavorada era só ficar ouvindo aquela musiquinha lenta e olhar o mesmo movimento até adormecer. Cresci e a caixinha continua lá no criado mudo, com a mesma música e com a mesma bailarina. As vezes ficava horas olhando para ela e imaginando como seria fácil minha vida se eu fosse essa boneca. Ali congelada em um movimento lindo, fazendo o que sempre quis, transmitindo suavidade. Ela não precisava se preocupar com nada, ela não tinha sentimentos, não se machucava. O máximo que poderia acontecer a ela, é em um momento de descuido eu esbarrar nela, cair e quebrar. Mas de jeito nenhum ela sentiria nenhuma dor na queda. A bonequinha é a unica que se dá bem nessa história. Me sinto presa em uma vida que não é pra mim, me sinto deslocada, eu não pertenço aqui. Penso que ser uma bailarina de caixinha de música seria a válvula de escape para toda essa pressão, todas as quedas da vida, eu não sentiria nada, não seria humana. Tem horas que não gosto de pertencer a raça dos seres humanos, ter que encarar tudo de frente e aguentar tudo o que vier. Mas a bailarina não, ela não precisa de nada disso para ser feliz, ela está no seu espetáculo, alegre para sempre, em seu movimento habitual. Diferente da vida real, o "felizes para sempre" é raro, talvez ele nem exista. Minha avó tinha acertado em me da-la de presente, não ficava mais com medo do escuro, eu havia superado esse obstáculo de infância. Mas e agora? Qual o presente que irá tirar meu medo de viver?

(Camilla Leandro).

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Nó na garganta

O som do lápis batendo na mesa ecoava em minha cabeça, tentava me concentrar na prova de matemática diante dos meus olhos. Olhei de esguelha para a garota do lado que batia insistentemente aquele maldito lápis e só o que eu consegui enxergar foi seu sorriso debochado e a expressão de triunfo diante das gotas de suor que escorriam pelo meu rosto. Voltei minha atenção para o exame pela metade, apertava tanto minha caneta que a sentia furar minha pele. E aquele barulho martelando sem parar, remexia meus pés embaixo da mesa, olhei o relógio, faltava menos de duas horas para o prazo terminar e agora a tirana estava aos cochichos com sua aliada. Olhei para fora e comecei a imaginar como seria ótimo ela ser atropelada por um ônibus ou ser mordida por um cachorro, soltei uma risada e senti os olhares voltados para mim, corei e me silenciei, sabia que os pensamentos de todos seriam sobre o quanto eu era estranha. Ela volta a bater seu querido lápis na mesa, aquele som irritante encheu-me de fúria e minha imaginação criou asas. Imaginei que estávamos no banheiro da escola e eu mergulhava sua cabeça no vaso sanitário e perguntava se agora era tão engraçado tornar a vida dos outros um inferno e ela suplicava para que eu parasse, mas eu não conseguia parar. Eu fitava o nada e tinha um sorriso congelado no rosto quando bateu o sinal, entreguei minha prova repleta de desenhos com meus planos de vingança, nem havia percebido que os fiz. Todos saíram da sala e eu a olhava com um riso nos olhos, me divertindo por dentro com tudo o que eu imaginei. Quando chego em casa, toca o telefone. Minha mãe atende, ela fora chamada pelo professor de matemática para conversar sobre mim, sobre os desenhos que eu havia feito nessa manhã e chegara a conclusão de que eu precisava de ajuda. Inconscientemente eu tinha gritado por socorro. Aquele nó na minha garganta tinha desatado.

(Camilla Leandro).

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O fim

Nicki estava parado na porta, olhava-o no espelho do guarda-roupas, tinha uma aparência péssima, cansada, esgotada. Sentou-se na cama, passou longos minutos parado sem se mover, sem dizer nada e sem ao menos pensar em nada, apenas fitava os próprios pés, sentia uma dor imensa nas costas. Ouviu o choro de sua filha no quarto ao lado, não conseguia mover um músculo sequer, permaneceu ali ouvindo os soluços daquela que devia proteger. Laila chegara do trabalho, batera a porta e foi ver a filha que ainda chorava, de lá gritou: - Nicki, não ouviu ela chorar? Qual o seu problema? - Ele continuava imitando uma estátua, sua voz tinha sumido. Ouviu passos, chuveiro ligado, uma canção de ninar. Laila aparece na porta do quarto: - O que você tem? - Ele apenas ergueu os olhos para ela, ele não teria precisado dizer nada, seu olhar carregava seu interior, a fez entender seu silencio. Sua mulher deu as costas e foi assistir televisão na sala. Ele podia ouvir seu coração bater tão forte que martelava em sua cabeça, o sangue em suas veias corria tão rápido que chegava a doer, ele deitou na cama e se encolheu feito um caracol, com as mãos nos ouvidos, chorava e tremia. Ela podia escuta-lo do quarto, queria ir lá acalma-lo mas sabia que nada e nem ninguém poderia tira-lo desse abismo, a não ser ele mesmo. Os soluços foram cessando lentamente, até que ficasse imóvel novamente, olhando para a parede, sentou-se outra vez na cama e agora era tomado por uma forte dor de cabeça, latejava tanto que o fazia gemer de dor. Então tomou coragem e foi tomar banho, talvez isso o fizesse relaxar, se esfregava com tanta força, como se quisesse se livrar de alguma sujeira que o impregnava. Se secou, colocou uma roupa velha, deitou na cama e fitava o teto, passou pelo menos uma hora nessa posição. Ele não poderia continuar assim para sempre, ele tinha certeza e sabia o que fazer. Foi até ao guarda-roupas, embaixo das suas calças jeans havia uma arma pequena. Pegou-a, começou a suar muito, seu coração estava disparado, foi até a sala e a apontou para Laila. A mesma se assustou, saltou do sofá e olhava com espanto: - Você enlouqueceu? - Ele chorava e soluçava silenciosamente. De fora da casa deu para se ouvir dois tiros, um tirou a vida da mulher que o traia e o outro tirou-o da vida sem ela.

(Camilla Leandro).

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O salto

Ela se encaminhou calmamente até o terraço do seu prédio, morava a muito tempo ali, tinha uma história naquele lugar e no entanto estava determinada a por um fim naquilo tudo. As lágrimas corriam feito cascata em seu rosto angustiado, suas sobrancelhas estavam encolhidas em uma expressão de dor, suas mãos suavam e os soluços a faziam tremer. Andava vagarosamente, tinha o dia inteiro. Se sentou no peitoril do prédio, seus cabelos loiros esvoaçavam com o vento forte daquele dia decisivo. Olhava o horizonte sem realmente ver nada, era como se sua alma tivesse escapado do corpo, ido embora sem olhar para trás. Estava oca. Em um momento de lucidez sua vida inteira passou feito filme em sua cabeça, lembranças antigas e recentes se misturando em confusos lapsos, ela não conseguia entender o porque estava ali, nem ao menos sabia como chegara ao terraço. Parecia que algo ou alguém a havia empurrado até lá, para que refletisse sobre tudo o que fizera, sobre tudo o que fizeram a ela. Desde pequena fora solitária, tinha amigos imaginários que nunca a abandonaram, mesmo quando ela descobriu que eles não existiam. Permaneciam ali, ela podia sentir. Essa solidão se arrastou por toda a sua adolescência, na escola a achavam estranha, vivia pelos cantos se escondendo das pessoas "normais". Porém amadureceu e teve uma vida como todos os outros tinham, marido, filhos, trabalho e uma casa para cuidar. Mas aquele vazio insistia em persegui-la, não importava o quanto ela afirmasse que tinha uma vida boa, que era feliz. No fundo, bem lá no fundo ela sabia que não podia mentir para si mesma, poderia enganar as pessoas ao redor, mas seu espírito sabia a verdade. Estava cansada de fingir, saturada de ser quem não era, tinha nojo de si própria e dos outros. Ela gostaria de ser outra pessoa, mas decidiu encarar quem realmente é. Secou as lágrimas com as costas das mãos, ficou em pé, olhou uma vez para o céu e depois para baixo, estava pensando se ela iria para o céu ou para o inferno e sorriu ao perceber que toda a sua vida já fora um inferno, então não importava para onde ela iria agora, apenas queria que tudo acabasse, queria silenciar as malditas vozes em sua mente, a terrível dor que sentia, ela queria ser livre, queria voar. Ficou imóvel como se estivesse em um transe. Não estava totalmente infeliz, havia o alivio de se libertar, não só ela de sair desse tormento mas todas as pessoas que tinham que conviver com sua história. Abriu os braços, sorriu e saltou. Seu último desejo tinha sido atendido. Estava tudo acabado.

(Camilla Leandro).