sábado, 5 de fevereiro de 2011

O fim

Nicki estava parado na porta, olhava-o no espelho do guarda-roupas, tinha uma aparência péssima, cansada, esgotada. Sentou-se na cama, passou longos minutos parado sem se mover, sem dizer nada e sem ao menos pensar em nada, apenas fitava os próprios pés, sentia uma dor imensa nas costas. Ouviu o choro de sua filha no quarto ao lado, não conseguia mover um músculo sequer, permaneceu ali ouvindo os soluços daquela que devia proteger. Laila chegara do trabalho, batera a porta e foi ver a filha que ainda chorava, de lá gritou: - Nicki, não ouviu ela chorar? Qual o seu problema? - Ele continuava imitando uma estátua, sua voz tinha sumido. Ouviu passos, chuveiro ligado, uma canção de ninar. Laila aparece na porta do quarto: - O que você tem? - Ele apenas ergueu os olhos para ela, ele não teria precisado dizer nada, seu olhar carregava seu interior, a fez entender seu silencio. Sua mulher deu as costas e foi assistir televisão na sala. Ele podia ouvir seu coração bater tão forte que martelava em sua cabeça, o sangue em suas veias corria tão rápido que chegava a doer, ele deitou na cama e se encolheu feito um caracol, com as mãos nos ouvidos, chorava e tremia. Ela podia escuta-lo do quarto, queria ir lá acalma-lo mas sabia que nada e nem ninguém poderia tira-lo desse abismo, a não ser ele mesmo. Os soluços foram cessando lentamente, até que ficasse imóvel novamente, olhando para a parede, sentou-se outra vez na cama e agora era tomado por uma forte dor de cabeça, latejava tanto que o fazia gemer de dor. Então tomou coragem e foi tomar banho, talvez isso o fizesse relaxar, se esfregava com tanta força, como se quisesse se livrar de alguma sujeira que o impregnava. Se secou, colocou uma roupa velha, deitou na cama e fitava o teto, passou pelo menos uma hora nessa posição. Ele não poderia continuar assim para sempre, ele tinha certeza e sabia o que fazer. Foi até ao guarda-roupas, embaixo das suas calças jeans havia uma arma pequena. Pegou-a, começou a suar muito, seu coração estava disparado, foi até a sala e a apontou para Laila. A mesma se assustou, saltou do sofá e olhava com espanto: - Você enlouqueceu? - Ele chorava e soluçava silenciosamente. De fora da casa deu para se ouvir dois tiros, um tirou a vida da mulher que o traia e o outro tirou-o da vida sem ela.

(Camilla Leandro).

2 comentários:

  1. Eu ouvia November Rain do Guns enquanto estava lendo seu texto, e isso foi só por acaso, ou não...
    Mas enfim, o que eu senti? Fui sentindo nas veias o que Nicki sentia, porque querendo ou não, todos nós nos sentimos assim em algum momento de nossa vida, quando só queremos abraçar nossos joelhos e se abraçar numa posição fetal. Então só tenho aplausos para você, por me conduzir nessa cena, como espectadora e ao mesmo tempo personagem, até finalmente O FIM, onde tudo cessa. Digna de honras você ;)

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  2. Putz, combinação rasgante. É exatamente assim que eu me sinto as vezes, caindo em buraco com vontade de dar um basta. Muito obrigada amor.

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