domingo, 26 de junho de 2011

Vingança I




Ela estava sentada, amarrada a cadeira. Não poderia mexer os pés e nem as mãos. A mordaça apertava a sua boca, estava inconsciente. Peguei uma cadeira, coloquei bem em frente a sua, sentei-me. A faca ainda estava em minha mão, nem a percebia, era como se fizesse parte de mim. Fiquei fitando-a por muito tempo, não sei lhe dizer o quanto. A vendo desse jeito, frágil, vulnerável, imóvel, capturada fica difícil de lembrar de como era a um tempo atrás. Era destemida, segura, auto-suficiente e no entanto foi pega. Gargalhei ao pensar dessa forma, aqui ela não parecia tão segura de si. Meu rosto ficou sombrio novamente, esperei até que acordasse lentamente. Olhou todo o quarto, não sabia onde estava, ficou assustada. Percebeu minha presença em sua frente, lágrimas caiam, implorando que eu a soltasse. Infelizmente eu não podia fazer isso. A diversão nem tinha começado. Ela soluçava em silêncio e eu não conseguia tirar os olhos dela. Minha cabeça girava, em turbilhões de pensamentos e sentimentos. Eu esperei por esse momento, por muito, muito tempo. Tinha que ser perfeito. Uma hora depois do seu despertar, me levantei, fui até ela, tirei sua mordaça e joguei no chão. Depois a rodeei, até que eu ficasse atrás dela. Me abaixei bem lentamente, afastei seus cabelos do ombro, ela tremia. Falei em um sussurro: - Não precisava ser assim, mas a escolha foi sua e agora não tenho como voltar atrás. Ela no entanto, chorou ainda mais. Estava apavorada, o que é engraçado. Não havia feito nada com ela. - Por favor, me deixe ir. Eu juro que não conto para ninguém, eu vou embora da cidade. Nunca mais você vai me ver. Por favor. Não contive a risada, não conseguia controlar minhas ações. Lhe proferi um tapa com as costas da mão, o que fez sua cabeça tombar para o lado, agarrei seu queixo e aproximei meu rosto muito perto do dela. - Você acha mesmo que vai ser tão fácil assim? Que é só pedir por favor, choramingar que eu vou ceder? Não! Agora eu estava gritando, - Eu já aguentei demais, agora é minha vez de atacar. Um dia é da caça e o outro é do caçador. E você é a caça. Soltei seu rosto, estava vermelho pelo tapa e isso me deixava satisfeita. Andei por todo o quarto, ainda estava pensando no meu ato seguinte. Me sentei de novo na cadeira em sua frente. - Vamos conversar Bella. Ela continuava a chorar, mas me olhava de um jeito diferente. Acho que estava com raiva de mim. - Por muito tempo, eu me perguntei porque você fazia aquelas coisas comigo. Eu era uma criança, eu queria ser como minha irmã mais velha sabe? Eu te admirava. Mas você sempre conseguia me por para baixo... Ela me interrompeu antes que eu terminasse a minha frase, - Eu sei que errei Jo, que eu errei muito com você. Me perdoe. Me levantei bruscamente, ela estava brincando com fogo. - Te perdoar? Minha vida foi um inferno por sua causa. Somente sua. Você roubou tudo o que eu amava. Você colocava a culpa sempre em mim. Afinal, nem sua irmã de verdade eu sou não é? Lembra, da vez em que você disse que nem meus pais biológicos me quiseram? Agora minhas lágrimas também saltaram, limpei-as rapidamente, fraqueza era algo que eu não aceitava. - Eu era uma adolescente que não media as consequências do que eu falava, eu só queria te alugar. Eu sei que é errado descontar nos outros, mas eu não sabia o que estava fazendo. Ri novamente, é engraçado que sempre fazia isso. Chorava e ria ao mesmo tempo. - Graças a você Bella, eu não tenho mais nada a perder. Abri meus braços, num gesto que significava que não tinha nada a não ser eu mesma. - Eu não tenho família, eu não tenho amigos, eu não tenho o homem que eu amo, eu não tenho minha filha. Nada, não me sobrou nada. Você conseguiu tudo, parabéns. Comecei a bater palmas para ela. Cheguei perto outra vez. - Porque? só me diz o motivo. Porque você fez isso comigo? meu olhar era insano, pude ver isso por sua expressão, aproximei a faca de seu rosto, percorri inteiro com a ponta afiada. - Eu...eu sempre quis ter tudo o que você tinha. Meus pais gostavam mais da filha adotiva. Mark nunca olhou para mim, ele se interessou por você, ele pediu você em casamento e não eu. Eu não achava justo, ta legal? Porque você merecia mais do que eu? Ela gritava, fiquei me perguntando quem era mais louca, eu ou ela? Suas palavras mexeram comigo, nunca achei que era esse o propósito. Apenas ser igual a mim? Impossível. Eu nunca fui melhor que ela, isso era irreal.

(Camilla Leandro).

Vingança II

- Você sempre teve tudo o que quis. Você fez que fez até acabar com a minha vida. Você conseguiu Bella, você matou a minha filha, você fez ele acreditar que eu fui a culpada. Você o teve por completo. Porém não era o bastante não é? Taquei o abajur na parede oposta, eu queria quebrar tudo, gritar, matá-la. - É eu fiz tudo isso mesmo, mas ele não me olhava da mesma forma que olha pra você. Consegui ter sua presença, mas não o amor. Ele ama você e isso não é justo. Eu sempre fiz tudo por ele, tudo. Ele tinha que ficar comigo.Não aguentei e parti pra cima dela, a desamarrei, joguei-a na cama, e comecei a golpeá-la, arranha-la. Agora ela também queria revidar, nos batemos até perder as forças e cair cada uma para um lado do quarto. Me sucumbi ás lagrimas. Estava cansada, fisicamente e emocionalmente. - Sabe, foi você que me deixou assim. Com todo esse ódio em meu peito. Afinal, acho que me igualei a você. Me odeio por isso, mas é a verdade. Como disse, não tenho nada a perder e todas as nossas contas serão acertadas hoje. Ela riu de mim, sínica. - Acho que não irmãzinha, logo Mark vai saber onde estou. Quando você estava me trazendo para cá, ele estava no celular. Daqui a pouco, ele chega com a polícia e você vai apodrecer na cadeia. Ela debochava, sentou-se na cama e tinha uma expressão de triunfo no rosto. Me levantei, arrumei meu cabelo. - Não, acredito que nem vou responder por sequestro. Como eu disse, eu me igualei a você. E a única arma infalível que eu tinha era pensar como você pensaria. Totalmente previsível. E eu consegui. Me olhou surpresa, se esforçando para não demonstrar a confusão. - Do que você está falando? Sorri de lado. - Olha lá em cima, está vendo? é uma câmera. Que transmite a imagem e som ao vivo para uma van que está parada ali do outro lado da rua. O agente Jake Burnes, me deu apoio nessa idéia. E sabe do que mais? Isso não era suficiente pra mim. A mesma imagem e o mesmo áudio é transmitido também para o notebook do Mark, a essa hora ele deve estar arrependido do que fez. Ela me olhava com ódio, toda a verdade a tona dessa vez. Ela veio para cima de mim, me jogou no chão com uma ferocidade surpreendente. Foi quando a porta foi quase arrancada da parede. A tiraram de cima de mim, a algemaram. No mesmo momento em que Burnes me ajudava a levantar, ela gritou: - Você vai se arrepender disso Joane, você me paga. Dei um tchauzinho antes que a tirasse do quarto. - Sua irmã não vai sair nunca mais da cadeia Jo.Vai responder por homicídio contra a sua filha, por falsidade ideológica e vários outros delitos. Dessa vez você está livre dela. Suspirei. - Ela não é minha irmã, Jake. No dia seguinte já estava em meu apartamento arrumando minhas coisas, quando a campainha tocou. Olhei pelo olho mágico da porta e hesitei em abrir. - Oi, eu acho que a gente tem que conversar. Mark estava parado na minha frente, não disse nada, apenas dei passagem para que entrasse. Fechei a porta. - Sobre o que?Ele não sabia como encontrar as palavras, cruzei os braços. - Sobre tudo o que aconteceu. Eu me deixei enganar por ela, eu estava tão abalado pelo o que aconteceu com a Katie que fiquei cego. Eu nunca podia imaginar isso. Aquilo me deixou irritada. - Você não pode acreditar que ela foi a assassina da nossa filha, mas acreditar que a culpa era minha foi fácil não é? Olha, eu só queria que você soubesse a verdade. Só isso. Nós não temos nada do que conversar.Ele se aproximou de mim, me segurava com as duas mãos. - Por favor me perdoa, eu sei que fui injusto. Mas agora eu já sei a verdade e a gente pode recomeçar. Sei lá, morar em outra cidade. Vida nova. Me desvincilhei do seu aperto, o olhei com indignação. - Não Mark não dá para fingir que nada aconteceu. Você está certo, eu vou ter uma vida nova, no qual você não tem espaço. Ele suava de impaciência, de vergonha talvez. - Por favor, eu juro... Não me contive. - Vai embora da minha casa. Ele insistia, - Não, vamos conversar. Fui até a porta, a abri. - AGORA! Ele saiu, bati a porta com muita força. Lágrimas rolaram pelo meu rosto, respirei fundo e continuei o que estava fazendo. De tarde, confirmei o contrato com o comprador do meu apartamento, tudo certo. Coloquei todas as minhas malas no carro. Dirigi por horas até chegar na cidade de Lawrence. Estava exausta, mas feliz. Agora eu podia recomeçar a minha vida. Esquecer aquele pesadelo. Anos se passaram, eu me casei e tive um filho chamado Jake, sim em homenagem a única pessoa que acreditou em mim no passado. Eles me fizeram esquecer tudo. Até que vi no noticiário, a morte de uma presidiária chamada Bella, que foi condenada pelo homicídio de uma garotinha de 5 anos. Esse foi o fim dela, e fiquei sabendo também que Mark, conseguiu ir embora para outro país, depois disso ninguém mais soube nada dele. Eu estava em paz, como nunca achei que estivesse um dia.

(Camilla Leandro).