quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tarde demais

Annie e eu fomos criados juntos, parece até que minha vida começou após ela se mudar para a nossa rua, tínhamos 9 anos. Ela era bem pequena para a sua idade, quieta, tímida. Tinha os olhos azuis e o cabelo loiro que sempre ficava solto, costumava usar um vestido azul claro, eu adorava aquele vestido. Quando sorria tudo em volta parava, eu ficava vidrado nela, brincávamos juntos, iamos até a cachoeira, andávamos de bicicleta, aliás foi eu quem a ensinou a andar. Todas as tardes eram com ela, inseparáveis. Crescemos, a adolescência bateu na porta e junto com ela as descobertas, Annie era minha melhor amiga e eu faria tudo por ela, mas quando eu digo tudo, é tudo mesmo. Tinha ciúmes quando algum garoto se aproximava dela, ciúmes de irmão é claro, pelo menos na época era assim que eu via. Mas Annie não era muito de sair e de ficar com outras pessoas, nós passávamos muito tempo juntos, nos pertencíamos. Isso me deixava seguro, ela sempre estaria do meu lado, não importa o que acontecesse. Algumas pessoas diziam coisas dela para mim do qual eu nunca prestei a atenção, quando estávamos quase com 17 anos, muitas pessoas diziam, olha Luke a Annie gosta de você, mas não só como irmão. Eu não acreditava, pelo menos no começo não. Ela era minha amiga, minha irmã. Mas sabe quando seu subconsciente desperta aquilo que sempre esteve na sua frente? Isso começou a me incomodar, eu ficava horas pensando se era possível. Uma vez fomos em uma chácara abandonada, sentamos em baixo de uma árvore, Annie levou seu livro para pintar, estava do lado dela, não conseguia desviar meu olhar, minha cabeça estava a mil, pensando se era certo ou não fazer o que eu queria fazer. Não queria perder sua amizade, mas o impulso foi mais forte que eu. Quando ela se virou para me dizer algo, eu lhe dei um beijo na boca. Nos levantamos de repente, ela estava muito vermelha, não me disse nada apenas saiu. Fiquei alguns dias sem vê-la, não me respondia recados, estava me evitando. Era o que eu mais temia, mas....ela gostava de mim, não? Meu coração dizia que sim, eu podia sentir. Alguns dias depois recebo a notícia de que ela irá viajar, não aguentei e fui até sua casa, subi até seu quarto e bati na porta, Annie me recebeu com aquele sorriso lindo que me deixava desnorteado, então quer dizer que ela não estava com raiva de mim, respirei aliviado. Parecia que ela havia apagado o episódio do beijo de sua memória, mas eu não iria citar, ela estava alegre e não queria que se afastasse de novo. Conversamos por horas, ela me contara tudo sobre a viajem, eu ouvia e sorria para incentiva-la porém a minha vontade era de amarrá-la na cama para que ela não fosse. Quando fui embora não aguentei e desabei, percebi talvez um pouco tarde de que eu era um irmão para Annie. Ela viajou, ficou meses fora, nos falávamos as vezes. Nesse tempo conheci outras pessoas, aquele sentimento foi esfriando dentro de mim. Quando vi havia três anos que Annie tinha viajado, de repente ouço o telefone tocar, era ela avisando que voltara com uma surpresa. O sentimento de 3 anos atrás voltara com força total, corri para meu quarto, tomei banho, me arrumei e fui até a casa dela espera-la. Minutos depois o táxi a deixa lá, eu tremia de excitação, tanto que não percebi o rapaz atrás dela, ela me abraçou como nunca tinha feito antes, após alguns momentos ela me entrega um convite. - Luke eu quero que você seja padrinho do nosso casamento. E abraçou o rapaz que agora eu via perfeitamente, um nó fechou a minha garganta, por alguns instantes eu apenas a fitei, como quem olha o nada. Respondi - Claro, parabéns irmãzinha. Ela me abraçou novamente, irradiava felicidade. Eu teria que ficar feliz por ela, mas meu amor era maior que isso, alguns anos depois eu realmente aceitei de que eu sempre fora apaixonado por ela, mas parecia que tinha uma venda em meus olhos, meu ego não queria aceitar de que ela só me via como amigo ou como um irmão. Após a festa de noivado fui para a minha casa, Annie iria morar na mesma rua que a gente, na casa do lado da dos seus pais. Eu não iria suportar, arrumei minhas malas, escrevi um bilhete a Annie dizendo que não ia poder ficar, aos 20 anos peguei meu carro, me despedi dos meus pais com relutância. Quando entro no carro vejo Annie na janela de sua casa me vendo partir, ela tinha o olhar surpreso, como se não acreditasse naquilo, porque afinal nosso lema era "Sempre um do lado do outro". Porém era demais, era insuportável essa idéia. Aquela imagem ficou gravada em minha mente até os últimos dias da minha vida, nunca mais voltei para aquela cidade, nunca mais a vi. A menina de vestido azul sempre fora uma ilusão para mim, o único jeito foi fugir.

(Camilla Leandro).

2 comentários:

  1. Nossa Diva, que história linda, de tirar o fôlego eu diria.
    Muito bom você escrever na pessoa masculina, vermos na perspectiva dele fica ainda mais interessante.
    E é engraçado como histórias assim se repetem na vida real, quando é tarde demais e vemos que nosso amor verdadeiro sempre esteve conosco e só a gente não viu. ♥

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  2. Obrigada pelo comentário meu amor, Sim você está certa. As vezes a pessoa que a gente sempre quis estava aqui o tempo todo e só nós não vimos.

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