domingo, 6 de fevereiro de 2011

Nó na garganta

O som do lápis batendo na mesa ecoava em minha cabeça, tentava me concentrar na prova de matemática diante dos meus olhos. Olhei de esguelha para a garota do lado que batia insistentemente aquele maldito lápis e só o que eu consegui enxergar foi seu sorriso debochado e a expressão de triunfo diante das gotas de suor que escorriam pelo meu rosto. Voltei minha atenção para o exame pela metade, apertava tanto minha caneta que a sentia furar minha pele. E aquele barulho martelando sem parar, remexia meus pés embaixo da mesa, olhei o relógio, faltava menos de duas horas para o prazo terminar e agora a tirana estava aos cochichos com sua aliada. Olhei para fora e comecei a imaginar como seria ótimo ela ser atropelada por um ônibus ou ser mordida por um cachorro, soltei uma risada e senti os olhares voltados para mim, corei e me silenciei, sabia que os pensamentos de todos seriam sobre o quanto eu era estranha. Ela volta a bater seu querido lápis na mesa, aquele som irritante encheu-me de fúria e minha imaginação criou asas. Imaginei que estávamos no banheiro da escola e eu mergulhava sua cabeça no vaso sanitário e perguntava se agora era tão engraçado tornar a vida dos outros um inferno e ela suplicava para que eu parasse, mas eu não conseguia parar. Eu fitava o nada e tinha um sorriso congelado no rosto quando bateu o sinal, entreguei minha prova repleta de desenhos com meus planos de vingança, nem havia percebido que os fiz. Todos saíram da sala e eu a olhava com um riso nos olhos, me divertindo por dentro com tudo o que eu imaginei. Quando chego em casa, toca o telefone. Minha mãe atende, ela fora chamada pelo professor de matemática para conversar sobre mim, sobre os desenhos que eu havia feito nessa manhã e chegara a conclusão de que eu precisava de ajuda. Inconscientemente eu tinha gritado por socorro. Aquele nó na minha garganta tinha desatado.

(Camilla Leandro).

4 comentários:

  1. é tão bom vir aqui...
    ver e ler o que escreve...
    sinto você próxima de novo, fico feliz
    beijo e parabéns.
    colega escritora

    Flávio Mello

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  2. Ahhhhhh morri. É, estou voltando a escrever como antes, sentia falta disso. Obrigada Flávio, fico feliz que tenha gostado. Beijos.

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  3. Eu simplesmente amo os desfeixos de seus textos. São tempestivos e arrebatadores, assim como o desenrolar da cena que nos dá arrepios. ♥

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  4. É por isso que eu te amo Ariane QQ Obrigada amor ♥

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