Ela estava sentada, amarrada a cadeira. Não poderia mexer os pés e nem as mãos. A mordaça apertava a sua boca, estava inconsciente. Peguei uma cadeira, coloquei bem em frente a sua, sentei-me. A faca ainda estava em minha mão, nem a percebia, era como se fizesse parte de mim. Fiquei fitando-a por muito tempo, não sei lhe dizer o quanto. A vendo desse jeito, frágil, vulnerável, imóvel, capturada fica difícil de lembrar de como era a um tempo atrás. Era destemida, segura, auto-suficiente e no entanto foi pega. Gargalhei ao pensar dessa forma, aqui ela não parecia tão segura de si. Meu rosto ficou sombrio novamente, esperei até que acordasse lentamente. Olhou todo o quarto, não sabia onde estava, ficou assustada. Percebeu minha presença em sua frente, lágrimas caiam, implorando que eu a soltasse. Infelizmente eu não podia fazer isso. A diversão nem tinha começado. Ela soluçava em silêncio e eu não conseguia tirar os olhos dela. Minha cabeça girava, em turbilhões de pensamentos e sentimentos. Eu esperei por esse momento, por muito, muito tempo. Tinha que ser perfeito. Uma hora depois do seu despertar, me levantei, fui até ela, tirei sua mordaça e joguei no chão. Depois a rodeei, até que eu ficasse atrás dela. Me abaixei bem lentamente, afastei seus cabelos do ombro, ela tremia. Falei em um sussurro: - Não precisava ser assim, mas a escolha foi sua e agora não tenho como voltar atrás. Ela no entanto, chorou ainda mais. Estava apavorada, o que é engraçado. Não havia feito nada com ela. - Por favor, me deixe ir. Eu juro que não conto para ninguém, eu vou embora da cidade. Nunca mais você vai me ver. Por favor. Não contive a risada, não conseguia controlar minhas ações. Lhe proferi um tapa com as costas da mão, o que fez sua cabeça tombar para o lado, agarrei seu queixo e aproximei meu rosto muito perto do dela. - Você acha mesmo que vai ser tão fácil assim? Que é só pedir por favor, choramingar que eu vou ceder? Não! Agora eu estava gritando, - Eu já aguentei demais, agora é minha vez de atacar. Um dia é da caça e o outro é do caçador. E você é a caça. Soltei seu rosto, estava vermelho pelo tapa e isso me deixava satisfeita. Andei por todo o quarto, ainda estava pensando no meu ato seguinte. Me sentei de novo na cadeira em sua frente. - Vamos conversar Bella. Ela continuava a chorar, mas me olhava de um jeito diferente. Acho que estava com raiva de mim. - Por muito tempo, eu me perguntei porque você fazia aquelas coisas comigo. Eu era uma criança, eu queria ser como minha irmã mais velha sabe? Eu te admirava. Mas você sempre conseguia me por para baixo... Ela me interrompeu antes que eu terminasse a minha frase, - Eu sei que errei Jo, que eu errei muito com você. Me perdoe. Me levantei bruscamente, ela estava brincando com fogo. - Te perdoar? Minha vida foi um inferno por sua causa. Somente sua. Você roubou tudo o que eu amava. Você colocava a culpa sempre em mim. Afinal, nem sua irmã de verdade eu sou não é? Lembra, da vez em que você disse que nem meus pais biológicos me quiseram? Agora minhas lágrimas também saltaram, limpei-as rapidamente, fraqueza era algo que eu não aceitava. - Eu era uma adolescente que não media as consequências do que eu falava, eu só queria te alugar. Eu sei que é errado descontar nos outros, mas eu não sabia o que estava fazendo. Ri novamente, é engraçado que sempre fazia isso. Chorava e ria ao mesmo tempo. - Graças a você Bella, eu não tenho mais nada a perder. Abri meus braços, num gesto que significava que não tinha nada a não ser eu mesma. - Eu não tenho família, eu não tenho amigos, eu não tenho o homem que eu amo, eu não tenho minha filha. Nada, não me sobrou nada. Você conseguiu tudo, parabéns. Comecei a bater palmas para ela. Cheguei perto outra vez. - Porque? só me diz o motivo. Porque você fez isso comigo? meu olhar era insano, pude ver isso por sua expressão, aproximei a faca de seu rosto, percorri inteiro com a ponta afiada. - Eu...eu sempre quis ter tudo o que você tinha. Meus pais gostavam mais da filha adotiva. Mark nunca olhou para mim, ele se interessou por você, ele pediu você em casamento e não eu. Eu não achava justo, ta legal? Porque você merecia mais do que eu? Ela gritava, fiquei me perguntando quem era mais louca, eu ou ela? Suas palavras mexeram comigo, nunca achei que era esse o propósito. Apenas ser igual a mim? Impossível. Eu nunca fui melhor que ela, isso era irreal.
(Camilla Leandro).